sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Meus agradecimentos de Formatura depois de 4 anos, ainda se perpetuam...



“Todas as artes contribuem para a maior de todas as artes, a arte de viver“. Bertolt Brecht, dramaturgo alemão.

Sempre tive um sonho que me acompanhou desde quando era criança: Ser arquiteta, para “construir uma casinha para velhinhos”. Esse sonho foi ganhando força e vigor à medida que me aprofundava mais e mais nos conhecimentos desta arte fascinante que é a arquitetura.
Em meu percurso acadêmico existiram obstáculos tão absurdos que, em alguns momentos cheguei a pensar em desistir do meu almejado objetivo de ser arquiteta. Porém, esses empecilhos de pequeno valor quando comparados à minha vontade grandiosa de melhorar as coisas da minha forma foram superados com muito esforço e empenho.
O meu desfecho acadêmico (a minha monografia) realizei um projeto voltado para idosos. Hoje me considero realizada, graças à arquitetura, esta arte abstrata e ao mesmo tempo concreta que me hipnotizou e me tornou uma louca devaneadora de espaços, de traços e croquis, de idéias; uma obcecada por cores e cálculos. Uma louca pelo espaço belo, mas acima de tudo funcional. Enfim, louca por qualquer arte digna de prosperidade humana para todos. A arte da arquitetura me ensinou a enxergar dignamente as coisas e a ver o mundo de uma maneira diferente, mais rica em detalhes, mais profunda, hoje sou mais feliz exatamente por me tornar arquiteta e urbanista.
Eis aqui meu agradecimento aos que me acompanharam em mais uma etapa da minha vida percorrida com muita luta:
Aos meus companheiros pais os quais tenho orgulho de tê-los ora como amigos, ora como filhos, ora como ícones profissionais, ora como exímios modelos de seres humanos, nos quais sempre me inspirarei...Meus dois amores que tanto lutam e me incentivam no cotidiano com simples atos de confiança em minha pessoa. Eu os amo como filhos.
Aos meus irmãos Breno, Fabrízia e Monique exemplos de solidariedade, união e de amizade. Ao meu sobrinho João Pedro por trazer a pura alegria ao nosso lar.
Aos amigos Alexandre Almeida, Isabella Aragão, Ricardo Lima, Vanessa Carla, Tatiana Castro e Raoni Pinheiro que me acompanham desde o início da minha longa caminhada acadêmica, me fizeram crescer dividindo força para lutar, amizade e solidariedade nas horas de tristeza e alegria.
A Caroline Lisboa, sempre presente nas horas de dificuldades mesmo com cotidianos tão divergentes. Ao amigo Allan Rafael Feitosa, por sempre me acalmar e ajudar nas horas em que preciso.
Ao meu companheiro, namorado e amigo, Osmário Santos, pela presença em todos os meus momentos difíceis, pela força madura e depósito de credibilidade em meu futuro; Principalmente pelo exemplo de ser humano digno e de competência profissional na qual me espelho aspirando a ascensão e a lapidação a cada dia.
A todos os professores da UNIT, em especial Ana Maria Farias por me acompanhar em meus últimos momentos acadêmicos. Aos professores e colegas do curso de Radialismo. Agradeço também pela solidariedade e amizade de todos os amigos do Grupo Vocal Staccato.
Enfim, a Deus pela força nesta profissão tão árdua, entretanto prazerosa, excitante e humana, pela qual me apaixonei.
TÍFFANY DIAS TAVARES

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Peripécias, traquinagem, gargalhadas, sorrisos, bochechas, dentes, língua...o que há de ser?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

MEU PRÓPRIO LAR, UM MARTÍRIO

Este texto foi criado a partir de uma história com dois pontos de vistas de personagens, um homem e uma mulher. Aqui vai o desespero de um homem dilacerado...
Aquilo era o prenúncio do mal. Meu coração cabia numa caixa de fósforos. Meu corpo todo estava dolorido. A coluna parecia um caco de vidro estilhaçado. As pernas não obedeciam aos meus comandos. Até meus músculos e minha pele desejavam alimento. Sim, alimento mesmo. Maria é o alimento da minha vida, do meu espírito.
Sentado na cozinha do meu apartamento, encostado na cerâmica fria, passei a mão na cabeça com a sensação de que ela ia explodir. Olhei para os lados, vi o par de havaianas que ela tanto gostava, aquele bendito par de sandálias que comprei em plena segunda chuvosa, faltando dez minutos para a loja fechar. Elevo meu olhar, e no varal suspenso da área de serviço, um biquíni listrado que ela esquecera antes de ir. Apoiei a cabeça na mão esquerda em cima dos joelhos e pus-me aos prantos, feito um moleque querendo o peito da mãe.
Uma mulher como Maria... Precisava ficar de olho. Eu tinha consciência disso, afinal ela está no auge de seus vinte e poucos anos e eu, um simples coroa. O amor tem dessas coisas. Coisas estas que não se explicam, nós vivíamos uma eterna busca de um casal apaixonado.
No meu quarto, a mesma roupa de cama que deitei com Maria pela última vez. O edredom desbotado, os travesseiros que tanto brigávamos para ver qual era o mais alto. No criado-mudo, uma fotografia nossa. O apartamento era repleto delas com nós dois. Ainda na cabeceira, um par de brincos e uma presilha de cabelo transparente. Os cabelos negros e lisos de Maria tinham um aroma de jasmim e esse aroma ainda estava lá, intacto, no meu quarto, nas minhas roupas, no meu travesseiro...
Na sala, o sofá. Ah! As minhas noites, deitado nele, ao assistir tevê, eu ainda escutava voz doce de Maria, quando limpava meus ouvidos. Pegava o cotonete, umedecia com perfume, me persuadia enquanto eu assistia à televisão e começava o ritual de limpeza. Todo domingo era sagrado. Eu parecia um cachorrinho de barriga para cima, pedindo carinho, naquele sofá-cama verde. Maria ainda cortava minhas unhas dos pés e das mãos e fazia careta, achando que doía, ao estalar do alicate de unhas. E eu completamente bambo, somente por ter seus dedos macios tocando levemente em meus pés. Para mim, aquilo não era só uma massagem no corpo, e sim em todo o espírito. A minha vontade era de perfurar à garfadas aquele sofá-cama, local em que tantas vezes afaguei e enrosquei meu corpo no dela... Meu estômago amargava de tanta tristeza.
Ainda na sala de estar, do lado direito do sofá, uma estante amarela texturizada em decapê comportava todos os troféus, placas e medalhas que coleciono da minha carreira profissional. Mas entre eles, mais fotografias. De Maria, de nós dois... Ela estava em toda parte. Suas fotos, presilhas, sandálias, biquíni, calçinhas, até o xampu, que eu sempre deixava para ela comprar.
No banheiro ainda pendurada no box, a toalha branca usada por Maria. Aproximo-me da toalha, cheiro-a e deslizo meu corpo desfalecido pela parede, com ela amassada entre minhas mãos. Não queria tirá-la nunca de lá. Na bancada de mármore vejo os batons, anéis e um protetor solar. Tudo em seu devido lugar, exatamente como ela deixou.
Na cozinha, em cima da pia, pratos, talheres e copos usados por nós, no domingo passado. Ela os tinha lavado. Minhas manhãs cortando verduras nos finais de semana para fazer o almoço, já não mais existiam. Eu levantava cedo aos sábados, deixava Maria dormindo, ia ao mercado, comprava frutas, verduras e camarões. Sem esquecer do doce de queijo de bolinha que ela se derretia com brilho nos olhos por ele. Ao abrir a porta do apartamento, eu colocava as sacolas em cima da mesa de jantar, em frente à cozinha, e lá vinha ela correndo feito uma criança sabendo que ia ganhar doce, ainda de babydol pulava em meus braços, enroscava os seus em meu pescoço e me abafava de beijos. Então eu apreciava ainda mais ser chef de cozinha, com uma anfitriã desta em minha casa... Eu sentia prazer em cozinhar, era um lazer.
Depois de uma semana que Maria resolveu dar um tempo, eu tento seguir minha vida sem ela. Sem ela passando protetor solar em mim, sem ela cortando minhas unhas, sem ela fazendo o sanduíche de queijo que só ela sabe fazer. Sem o corpo dela encaixado ao meu, sem o cheirinho dela, sem suas broncas e até suas crises de choro, sem a voz de neném dela ao pé do ouvido.
Entro no quarto, a cama vazia ainda a aguarda, caminho em direção ao corredor, na parede, um quadro gigante com nossa foto em preto e branco; no banheiro, a toalha branca com seu cheiro; sala de estar, o bendito sofá verde repleto de libido; na sala de jantar, a mesa com as sacolas de compras; na área de serviço, o biquíni de Maria. Na cozinha, suas peripécias, enquanto eu cozinhava. A casa que antes era dela, a Maria que mandava e desmandava, gritava, pulava, gerava vida em minha vida, hoje respira sem ela. Mas Maria voltará para minha proteção. Tenho ciência disso.
A vida é assim...sem rodeios, sem máscaras, sem maquiagem. Somos nós quem a lapidamos, ao nosso gosto, ao nosso sabor por entre os dissabores....

INTELECTUALIDADE LASCIVA

Posição despojada, barba por fazer e cabelos emaranhados. Aquele rapaz sentado à mesa da biblioteca, de óculos e camiseta branca completava uma cena erótica imaginária. Plínio era seu nome. À medida que aquele homem forte e roliço, dono de um arsenal de conhecimento ia seguindo as linhas com seus olhos grudados nas páginas do livro de capa dura e folhas amareladas... ares fantasiosos percorriam a mente de uma mulher estranha que observava o rapaz.

Ela entregando-se aos seus pensamentos libidinosos e sem timidez, senta-se em uma mesa distante quinze metros à que Plínio se encontrava. A mulher desconcentrada, pega um livro de sua mesa sem selecionar, dentre outros que ali estavam, abre-o e finge lê-lo. Fitava sem hesitar o rapaz sisudo que exalava um aroma intelectual, semelhante aos que nos excitam com ar de superioridade.


Plínio sem perceber que era observado, lia atentamente uma velha obra de Érico Veríssimo e convergindo apenas para a leitura, não desviava sua atenção por nada, nem mesmo para o ruído do ventilador de teto. Desligado do mundo, devorava as palavras como um mendigo faminto. Em silêncio, no andamento da leitura, Plínio encravava lentamente os dedos nos seus cabelos lisos e negros, repetindo o movimento por diversas vezes. A mulher, inebriada com o vai e vem da mão máscula e sensual, banhava-se visualmente com a peculiar beleza do rapaz desconhecido. Sua respiração ofegante incomodava seu subconsciente que, naquele momento, aspirava só e somente só, àquele discípulo da intelectualidade.


A sede pelo conhecimento de Plínio desconcertava a sobriedade da desconhecida mulher. Sua face ruborizada denunciava a excitação pelo rapaz. Nervosa, a mulher resolve levantar-se e ir até ele sem titubear, para ao menos falar-lhe algumas palavras. Ao caminhar com passos curtos e firmes, ela fantasiava seu momento de clímax sem racionalidade. 
Seios arrepiados, mãos frias, ombros enrijecidos, a mulher criava coragem para despir seu desejo ao homem de barba rala. Faltando poucos metros para chegar ao seu deus...

Plínio folheia sua obra, inclina-se para o lado. Repara um livro na prateleira, levanta-se indo ao encontro à mulher para pegá-lo. Os dois se cruzam, como que numa perseguição lasciva e sentem seus braços roçando um no outro. Ela continua andando sem olhar para trás. A fricção da pele em fração de segundos faz com que a mulher caia em si. Ela desiste em seguir, insiste em voltar para perguntar algo não sabendo o quê, ao rapaz. Ele a olha parada a sua frente e confuso dirige-se a ela:
− Você é observadora...
− Desculpe, mas por quê? Pergunta a mulher assustada.
− O livro que estava lendo descreve esta cena que estamos passando neste momento. Responde Plínio.
− Que cena, não estou entendendo? Retruca a mulher
− Esta, de nos chocarmos, tocarmos os braços e sentirmos a necessidade de sabermos quem é o outro.
- E o final, em quê dá? Pergunta ela curiosa.
A mulher desconhecida empalidece a face e retoma suas fantasias subconscientes perguntando ao rapaz qual o seu gosto preferido pelos livros. Ele lhe responde, até que, trocando olhares caminham juntos em direção à mesma mesa em que Plínio se encontrava ao ter sua hábil leitura. Curiosa, a mulher simula desentendimento, senta-se ao lado do rapaz e solicita explicações sobre a obra que o mesmo lera.


Embevecidos pela curiosidade, não se sabe ao certo se para entender a obra lida, ou pelo simples fato de desvendar o novo que estar por vir... ambos se devoravam com olhares e mais olhares, palavras e gestos em plena biblioteca, lugar puro, sublime, sem perversidade, sem interesse ou talvez sim, quem sabe...numa cúmplice paixão intelectual e avassaladora.

PIERRÔ APAIXONADO


Naquele calor terrível estávamos eu e Sérgio na terra do frevo em pleno Carnaval. Neste ano, a festa do Pierrô Apaixonado caía em meu aniversário.
Havia rompido um relacionamento e resolvi comemorar a liberdade com meu parceiro de todas as horas, desde aquela minha época da Faculdade de Arquitetura, até os dias de hoje.
Dois amigos inseparáveis carregando suas malas, caminhando pelas ladeiras de Olinda, chegando eufóricos, porém cansados de uma viagem fatigante de ônibus. Eu, já conhecia a festa, o Sérgio não. Ele, a medida que caminhava ia desvirginando sua vista com aquelas tipologias arquitetônicas e culturais tão peculiares que só Olinda tem.
Subíamos e descíamos ladeiras, com malas e colchonetes nas costas, a procura da nossa casa alugada. Passados alguns minutos, até que enfim a casa foi achada. Numa turma de 20 pessoas desconhecidas, que iriam se instalar na humilde casa, somente eu e Sérgio para trocarmos sinceridades naquele meu momento nostálgico: Término de um relacionamento e o primeiro aniversário longe da família.
Eu, ansiosa, vou logo tomar banho para animar-me o espírito e cair no frevo. Sérgio, como de costume, foi logo providenciar o que comer. Abriu a geladeira, pegou seu suco preferido, o de uva, deliciou-se com um mero biscoito e sentou-se ao chão da varanda, lugar onde tínhamos escolhido para dormirmos naquela 1ª noite que estava por vir. Naquele carnaval, somente eu e ele em nossa amizade e cumplicidade para esperarmos ansiosos o amanhã, o Dia do Meu Aniversário.
Ao amanhecer, em um marasmo solitário do meu dia, olhei para Sérgio dormindo, olhei ao redor... corpos desconhecidos também dormindo... Somente aquele guri magricela e branquelo estirado em seu colchão, único ser conhecido que me entendia muito bem.
Eu chorava em silêncio, ao me dar conta de que não haveria o desafinado parabéns cantado por meus pais, abrindo a porta do meu quarto como pedia a tradição da família. Ah, que momentos maravilhosos. De repente, deparei-me com uma profunda solidão. Sérgio acorda com meu baixinho soluçar. Olha para mim e quieto como de costume apenas me acalma com sua voz branda me perguntando:
- O que foi menina?
- Nada...só porque é o meu primeiro aniversário que passo longe da família, respondi apática.
Sérgio permanece em silêncio e me abraça. Após alguns minutos... o celular toca. São os amigos e familiares ligando para me proporcionar momentos relâmpagos de alegria mesmo que de longe. Levanto-me apressada para pegarmos carona no primeiro bloco de frevo que passa e tentamos diluir aos poucos minha tristeza sem nenhum diálogo.
Nos primeiros passos pelas ruas, os gigantes humanos desengonçados percorriam por entre aquela massa efervescente repleta de crianças, adultos e idosos embalados ao som contagiante do frevo. Confetes e serpentinas coloriam os ares de Olinda e também o meu. Quanto a minha solidão, despedi-me dela ao jogá-la em pleno auge carnavalesco, olhei para Sérgio que me retribuiu o olhar, e seguimos na multidão.